Um dia acordei, estava deitada aos braços de uma mulher que ainda não sabia quem era. Era linda e ouvi-a chamar-me de "filha" e sorri para ela, desdentada.
Um dia acordei, estava deitada numa cama um bocado estranha, acho que a chamavam de "berço", chamei a minha mãe para me levantar porque estava um dia lindo lá fora.
Um dia acordei, a minha mãe estava a olhar para mim a dizer que eu tinha que ir para o infantário, fiquei feliz porque ia fazer amigos e ia brincar muito com eles.
Um dia acordei, o despertador tocou e levantei-me para me preparar para ir ao meu primeiro dia na nova escola. Uma escola grande.
Um dia acordei, o despertador tocou e eu não queria mais ir à escola, os amigos não eram mais meus amigos, tivemos aquelas brigas que a minha mãe chama de habituais na minha idade, mas ela não compreende.
Um dia acordei, não me quis levantar da cama. O mundo lá fora é muito cinzento, as pessoas são cruéis. Sinto-me melhor sozinha.
Um dia acordei, e fui para as aulas. Estou farta desta rotina, destas preocupações, destas pessoas. Só quero voltar a dormir.
Um dia acordei, e fiquei deitada a pensar como tudo era fácil quando era mais pequena, quando a minha única rotina era brincar, comer e dormir. Quando os meus amigos eram mesmo meus amigos. Quando não havia maldade nas ações das pessoas próximas de mim, só inocência e ingenuidade. Quando as minhas únicas preocupações eram se estava bom tempo para ir brincar com o meu pai lá para fora ou se a minha irmã teria paciência para brincar com uma criança como eu.
Um dia acordei, e quis voltar a dormir, porque nada é como era antes.
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